terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A nova arma do imperador




                O brasileiro cobra uma polícia mais enérgica, uma justiça menos branda, mas o que faz segue o caminho contrário. Na contramão do que costuma exigir, quando chega a sua vez de condenar socialmente, de praticar um ostracismo, o brasileiro troca a punição por um gol. O futebol parece fazer o brasileiro esquecer qualquer problema, até mesmo os envolvimentos com o crime organizado ou o desprezo pela vida que possa ser demonstrado repetidas vezes por esses arautos da boa forma.

                Corpo são, mente sã. Essa máxima grega não se aplica ao caso tupiniquim. É possível usar outros casos como exemplo, mas quero partir apenas do exemplo do jogador Edmundo que, em mais de uma ocasião, matou por estar dirigindo embriagado, mas ficou lembrado apenas por ser problemático em campo e hoje até é tido como um exemplo quando faz um jogo com renda beneficente. Posso passar pelo exemplo do goleiro Bruno que, se formos nos basear na práxis brasileira, só foi demitido porque foi preso, o que o impossibilitou de cumprir sua agenda profissional. Por fim, o meu preferido, o “Imperador Adriano” que já foi flagrado em fotos posando com uma metralhadora de “paintball” (o brasileiro não se importa de parecer mais idiota do que realmente é, quando tem um jogador envolvido), também fazendo o símbolo do Comando Vermelho e em outras situações muito pouco dignas, para dizer pouco, e sempre com um largo sorriso na cara, um sorriso de um imperador que reina, ri e rói.

                No caso mais recente, uma arma calibre 40’, ou seja, de uso restrito, estava de forma suspeita “nas mãos da jovem que atirou no próprio pé”. Notícias dão conta que, antes do depoimento,  uma das jovens teria dito que o nosso Imperador manuseara a arma que seria do seu “segurança”, um tenente da reserva. Qualquer pessoa que saiba só um mínimo necessário de leis pode notar uma meia dúzia de ilegalidades aí. Mas ao mesmo tempo, qualquer pessoa que conheça qualquer caso anterior envolvendo as nossas celebridades do esporte, sabe que a história não vai ter de ser bem contada para colar, não só com a “justiça” brasileira, mas com o torcedor brasileiro, predisposto a acreditar em qualquer desculpa que lhe seja dada.

                É bom o brasileiro médio lembrar dessa indulgência pública concedida aos craques da próxima vez que pedir a um deputado que defenda a adoção da pena capital, ou da redução da maioridade penal. O cidadão médio não é capaz de pedir ao seu clube que demita um jogador que defende abertamente uma facção criminosa, uma ação ainda mais condenável porque esses homens são os ídolos da juventude, formam o escopo moral dos jovens que imitam até o mais feio corte de cabelo que seja ostentado por eles.

                A impressão que se tem é a de que se o próprio Jack Estripador fosse um craque do futebol brasileiro, ele poderia continuar jogando tranquilamente pelos grandes clubes nacionais. Já que essa  conduta disciplinadora não é nem exigida pelos torcedores brasileiros, só resta esperar pelo bom senso dos clubes sem nenhuma pressão exterior, mas não vou esperar muito. Enquanto isso, vamos montando um álbum de figurinhas com as fotos duvidosas no nosso jogador Adriano. Enquanto isso, a juventude brasileira vai sendo moldado com esses nossos bons exemplos. Que depois não se culpe apenas os professores.

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